Mais uma vez, foi convidada a participar do Programa Análise Direta. O tema da vez foi Resiliência. O convite foi resultado de uma sugestão que dei quando da entrevista sobre o Bullying. Na ocasião, uma telespectadora contou que havia sido vítima de bullying e de ter sofrido muito por conta disso. Teve depressão severa e chegou a ser internada. O que achei mais legal de seu relato, é que sua contribuição para o programa foi para contar que hoje, em detrimento dessa terrível experiência, tem em uma vida nova, está casada e feliz. O bullying não estragou sua vida a ponto de tolher sua felicidade. Marcas, com certeza deixou.
Resiliência é exatamente isso, não apenas superar uma adversidade, mas sair fortalecido, transformado dela. Resiliência vem do latim resilio e significa voltar ao estado normal. É um termo usado na física e na biologia e que descreve a habilidade de um material, após ter sofrido uma forte pressão, voltar a seu estado normal. Todo material possui seu limite de quanta tensão suporta até começar a se deteriorar. Gosto do exemplo da mola, que após sofrer o máximo de pressão que pode suportar sem deteriorar, não só volta a seu estado normal, mas com energia extra: ela pula!
O termo resiliência foi adotado pelas ciências humanas para descrever a capacidade humana de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades que a vida apresenta. É um estudo recente, começou a ser estudado em torno de 30 anos atrás, em campos de concentração. Na época se questionava: por que algumas pessoas suportavam mais do que outras a mesma terrível situação?
Descreve as forças psicológicas e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças de nossas vidas. A pessoa resiliente é aquela que utiliza força, flexibilidade, inteligência e otimismo para enfrentar e superar circunstâncias desfavoráveis, como a telespectadora que falei no início.
A principal característica de uma pessoa resiliente é sua habilidade de fazer com que a pressão que sofre, trabalhe a seu favor, como a mola que ganha energia extra. Pessoas que usam todas suas habilidades, sejam as já conhecidas, ou as que descobrem na hora, para lidar com os pontos críticos da vida, momentos potencialmente perigosos. Dentre as características, as mais relevantes são:- criatividade; – capacidade de suportar dor; – percepção de si mesmo e do que está sendo vivenciado em determinada fase da vida; – independência de espírito; – auto respeito; – habilidade de recuperar a autoestima quando esta diminuiu ou foi temporariamente perdida; – capacidade de aprender; – habilidade de fazer e manter amizades; – liberdade na dependência dos outros, com limites da profundidade da nossa dependência; – uma perspectiva de vida que oferece uma filosofia vital, evolutiva, através da qual podemos interpretar todas as nossas experiências e extrair alguma medida de significado pessoal.
O que procurei deixar claro na entrevista, é que um dos fatores que dificultam a resiliência é a polarização. Por exemplo, uma autoestima baixa tem o mesmo efeito que vaidade alta demais, pois ambas as situações não permitem a flexibilidade. E, a chave da personalidade resiliente é a flexibilidade: ser capaz de utilizar suas forças, ser lógico, organizado quando necessário e, ser capaz de funcionar de forma insensatamente ilógica e até abandonar projetos em andamentos, para assim descobrir possibilidades inesperadas quando assim for preciso.
Além disso, procurei frisar que resiliência é diferente de sobrevivência, diferente de invulnerabilidade e diferente de enfrentamento. Afinal, resiliência não é apenas uma simples resposta à adversidade, mas sim a capacidade humana universal de superar as adversidades da vida e de ser fortalecido por elas. É parte de um processo evolutivo e pode ser promovida desde o nascimento. Portanto, deve ser entendida como um processo. Todos nós nascemos com esse potencial que poderá ser mais ou menos desenvolvido, dependendo de quanta atenção e interesse colocarmos nele. Se, diante de um problema uma pessoa tem a crença de que só lhe resta lamentar a infeliz fatalidade, uma excelente oportunidade de desenvolver esse potencial está sendo desperdiçada…
Existem fatores de resiliência, comportamentos resilientes e resultados resilientes. Pessoas com maior resiliência têm motivação para buscar ajuda. Sabem que tem problemas e buscam alguém para ajudá-las. É claro que podemos cultivar e exercitar a resiliência. Mas, nenhum de nós é perfeito no sentido de termos todas as características descritas acima, bem desenvolvidas. Somos sempre mais ou menos um pouco de cada coisa.
É justamente nos períodos de forte estresse que temos a oportunidade única de desenvolver ou reforçar as qualidades de resiliência, que não são particularmente nosso ponto forte. Crônica “A pipoca” de Rubem Alves ilustra muito bem isso.
É importante ressaltar que resiliência não será sempre a mesma, presente e interminável. Nosso nível de resistência poderá oscilar ao longo do tempo. Nenhum componente da resiliencia é parte estável da personalidade. Algumas vezes, por exemplo, somos mais corajosos do que outras vezes. O importante é você avaliar periodicamente suas forças e limitações. Por escolha, sempre que possível desenvolva suas habilidades que lhe pareçam mais fracas, de forma que possa melhorar suas possibilidades de lidar com bifurcações futuras. Afinal, infelizmente não podemos prever sempre que tipos de capacidades e habilidades iremos precisar para enfrentar rupturas futuras. Existem pessoas que ultrapassam e continuam a saltar por sobre os altos riscos e vulnerabilidades que enfrentam, que nunca deixam de ter esperança, que se agarram a seus ideais, adquirindo uma filosofia de vida ou uma perspectiva religiosa e que conseguem se desenvolver como seres resilientes.
Fé na vida dá força e suporte para viver a vida com significado, para agarrar-se aos próprios sonhos. Essas são as marcas de pessoas resilientes. Enfim, foi essa a mensagem que procurei deixar e que quis compartilhar em meu blog…