Há algum tempo venho refletindo sobre a interseção da Orientação Profissional e a Psicologia Analítica. Ainda não me detive ao trabalho de levantar trabalhos que debatam essa temática. Mas, cá com os meus botões, comecei a refletir a respeito.

O processo de orientação profissional é um processo de começo, meio e fim, que auxilia as pessoas nos momentos de dúvidas quanto a escolha da profissão. Seja ela a primeira escolha, ou segunda, terceira, quando a pessoa já está inserida no mercado de trabalho e/ou já tem uma formação universitária e quer mudar o rumo. Este processo é calcado em três pilares: autoconhecimento, testes psicológicos e também pelo conhecimento da realidade profissional. Desta forma, a (re) orientação profissional serve como um instrumento de apoio à (re) escolha da carreira e tem por objetivo auxiliar nesta importante etapa de vida.

Não existe um momento certo, ideal para que esse processo ocorra. É claro que é bastante comum que esse serviço seja procurado próximo ao vestibular, para que a escolha da profissão seja mais certeira. Mas, é garantido que farei a escolha certa para o resto da minha vida nesse momento? NÃO!

Garantia é um terreno arenoso nesse sentido. A psique é dinâmica. O que faz sentido hoje, pode não fazer amanhã. E, tudo bem ser assim!

Às vezes focamos tanto nos resultados que não apreciamos, aprendemos e crescemos com o PROCESSO. E aí é que entra o olhar junguiano. Um olhar prospectivo que aponta as finalidades, os para quês dos fenômenos que vivenciamos e não os porquês.

Por mais que vivamos em tempos Hipermodernos, em que a velocidade e os resultados são as premissas básicas, temos que dar tempo ao tempo. Uma maçã, não se torna maçã da noite para o dia. Enquanto semente, tem que encontrar um solo adequado para poder germinar. Nesse processo, tem que abdicar do seu centro seguro e acolhedor e começar uma tremenda transformação. Transformação esta que implica em dor, no sentido de suportar a escuridão do solo, romper a casca e sair em busca da luz. Para então se transformar em árvore, florescer e gerar frutos.

Metaforicamente, diria que quem busca a (re) orientação profissional é como uma semente, voando pelo vento à procura de um solo para germinar. No processo, estudamos os possíveis solos que existem, antecipamos e refletimos sobre as possíveis dificuldades que essa semente irá encontrar…, Mas, suportar a escuridão, romper as barreiras da casca e buscar a sol é uma tarefa única e exclusiva da semente. Como orientadora, posso apenas regar o solo, ajudar a remover ervas daninhas que possam vir a atrapalhar o processo de germinação.

Jung diz que “… a trajetória da vida é tão individual que certamente nenhum conselheiro, por mais competente que fosse, poder-lhes-ia prescrever o único caminho certo. Por isso devemos fazer com que a própria alma da pessoa venha a falar, a fim de que esta compreenda a partir de seu próprio íntimo, qual é a sua situação verdadeira.”

Por isso, me sinto no dever de cuidar de cada processo de maneira singular. Cada necessidade é única. E é preciso estarmos atentos a isso. A semente pode sentir a necessidade de ficar mais tempo no solo, explorar os limites da casca, suportar a escuridão até que se acostume com ela, antes de romper rumo a luz. Tudo ganha um novo significado, que só o autoconhecimento é capaz de propiciar. Mas, se o foco for no resultado, no fazer a escolha certa no tempo certo, isso será perdido.

Como jardineira, devo apenas respeitar e acompanhar. Pode ser que se tenha que dar uma pausa no processo para que essa semente desfrute de sua viagem interna. TUDO BEM!  Um novo contrato é estabelecido, a (re)orientação profissional faz uma pausa e o autoconhecimento passa ser explorado em um novo setting terapêutico. Afinal, como disse em tudo há uma finalidade maior e temos que respeitar o tempo de cada um:  “quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro acorda”. (Jung)

Abraços,

Lilian Loureiro