Hoje, enquanto estava trabalhando, com a TV ligada (péssimo exemplo alias… rs) assisti mais uma vez a propaganda que tanto gosto da Fiat: a do novo Fiat Pálio 2010. Aquela em que um cara, senta-se a frente do juiz e pede para separar-se de sua alma, pois os caminhos que escolhem são muito diferentes. Enquanto seu ideal é comer comida natureba, sua alma insiste em comer cheeseburger… O final da propaganda mostra o real encontro do cara com sua alma, no momento em que vislumbram algo em comum: no caso, o palio.

Quem fez essa propaganda teve uma ótima sacada e muito provavelmente faz análise, ou acompanha alguém que faça. Afinal, ela retrata fidedignamente muitas situações, que todos nós vivenciamos dia-a-dia, entre o que queremos idealmente e o que podemos de fato. É uma propaganda muito boa e sempre a uso como exemplo com meus pacientes.

Ela retrata metaforicamente o que é o processo de individuação, que nada mais é do que nosso processo de autoconhecimento.

Segue a definição de individuação que usei em meu TCC:

(…) a psicologia analítica entende que o desenvolvimento psicológico se dá a partir da diferenciação progressiva do ego em relação ao Self e, este processo, chama-se individuação. Ele se dá a partir do processo dialético do ego com os conteúdos inconscientes e sua função é a integração de tais conteúdos, permitindo assim, que o sujeito vá se aproximando de sua verdadeira essência, para se tornar um ser individuado. O processo de individuação sempre está presente, mas é na segunda metade da vida (metanóia) que ele se torna mais relevante. Durante a primeira metade da vida, o ego para se consolidar, vai se relacionando com o mundo e se diferenciando do Self; já na segunda metade, quando o ego já está consolidado, há um retorno ao Self, mas de uma maneira diferenciada, e é este novo confronto que se caracteriza como individuação. (Loureiro, 2003, p. 12)

É muito comum traçarmos uma meta, um caminho de vida, tipo quando crescer quero ser advogada, professora, veterinária, entre muitos outros exemplos. Muitas vezes por mais que nos esforcemos, não conseguimos concretizar o sonho, como o idealizamos. É como se uma força, contraria à nossa vontade nos impulsionasse por outros caminhos. Às vezes, quanto mais tentamos brigar com essa força, mais ela se faz presente, mostrando quão capaz ela é. Acabamos ficando irritados, frustrados e teimosos, até que não conseguimos mais lutar contra a maré e nos entregamos a ela… Daí é muito comum acontecer algo, que muitas pessoas julgam como mágico: depois que desistem de lutar e aceitam o chamado da vida, muitos dos projetos iniciais se desenvolvem, mas não conforme haviam sido planejados, mas de uma maneira inédita e muitas vezes até melhor. Ao invés de lutar contra a onda, aprendem a usá-las a seu favor, como quando pegamos “jacaré” …

É como a propaganda retrata: quando a cara desencana de brigar com sua alma e resolve sair de casa, percebe que têm algo em comum com ela: o gosto pelo carro. No exemplo acima, é como se a pessoa, depois de sofrer muito no processo de decisão por uma das profissões almejadas na infância, se formasse em direito e, ao longo da vida, percebesse que além de exercer a profissão, acaba defendendo a causa dos animais, por exemplo (amparando seu amor pela veterinária), e, além disso, transmitindo todo conhecimento adquirido através do ensino.

O processo de individuação é isso: ouvir e atender o chamado da alma, o caminho que ela aponta, por mais que isso contradiga a verdade consciente, ou melhor, o desejo, que muitas vezes entendemos como a correta.

Deve ficar claro que isso não quer dizer resignação, apatia, não ir atrás de sonhos e ideais, resumidamente, passar o dia sentado no sofá, esperando “a alma” fazer seu trabalho. Muito pelo contrário. É como sempre falo para meus pacientes: você precisa fazer sua parte para que a vida faça a dela! E, quando obstáculos, frustrações invadem nosso caminho, e destroem nossos projetos e sonhos, aí sim é o momento de busca, para entender o significado e finalidade dessa experiência. Muitas vezes o aprendizado por trás é a desconstrução do ideal, perfeito e “redondinho” e a inevitável aceitação do real, com todos os “defeitos” que são inerentes… No final, depois que reconhecermos humildemente até onde podemos ir, a recompensa será inevitável. No caso da propaganda, o encontro simbolizado pelo carro.

Segue o link da propaganda:

http://www.youtube.com/watch?v=QF0V3z0Uwxk

Até mais,