Por Grupo SEJA
Esta pergunta contém uma armadilha, pois as implicações de qualquer resposta – sim ou não – envolvem dois níveis de realidade: a dos sentimentos e a das convenções sociais. Como está colocada passa a impressão de que amar alguém e estar envolvido num relacionamento amoroso seriam a mesma coisa. E não é bem assim. Muitos relacionamentos, incluindo casamentos, estão baseados em razões bem diferentes das amorosas.
A sexualidade das outras espécies animais é completamente regulada por instintos. No caso do homem, há complicações. Além dos instintos, nós possuímos uma consciência capaz de regular o nosso comportamento erótico.
Há também a convenção social que determina quantos parceiros alguém pode ter. Dependendo da cultura, da sociedade ou da época histórica, esse número pode mudar.
Na sociedade ocidental cristã admite-se a monogamia. O amor por uma única pessoa é um comportamento relativamente recente na história da humanidade. A partir do surgimento do amor romântico, o homem passa a regular seu comportamento admitindo apenas um parceiro.
Isto não impede que nós possamos desejar outras pessoas. O desejo erótico escapa ao nosso controle. Nem por isso somos forçados a sucumbir toda vez que nos sentimos atraídos, uma vez que a construção de uma relação exige foco e energia. Compreender que o sentir não é construído, mas que a relação é, torna-se aqui, fundamental.
A paixão e o desejo se constelam quando projetamos no outro características nossas ainda não desenvolvidas. Pode acontecer de uma pessoa encontrar num único parceiro as condições necessárias para essa projeção. Mas, pode ocorrer de encontrá-las em parceiros diferentes.
Concluindo, ao voltarmos a atenção para o sentimento, as coisas se complicam (ou simplificam …). O amor, a paixão e o sexo têm movimento próprio, são ilimitados potencialmente. Não se subordinam às conveniências e nem à vontade; podem eleger mais de um objeto.
Mas será possível relacionar-se com mais de um parceiro ao mesmo tempo?
Aqui sim temos uma questão ética com que lidar. Se alguém ama duas pessoas e vive numa sociedade monogâmica; terá de enfrentar um conflito entre seus sentimentos e os sentimentos das outras pessoas envolvidas. Sua decisão não poderá excluir nenhuma das partes e vai envolver algum nível de sacrifício e comprometimento com as consequências da escolha. Poderá permanecer monogâmico ou relacionar-se com ambos os parceiros, (ou com nenhum) desde que pague o preço.
(ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA VYA ESTELAR, NA COLUNA AMOR EM 2004)