Aniversários me deixam nostálgica. Inevitável fazer balanços de como era há 1, 2, 3, 4 anos atrás e como está agora…
Comecei a refletir sobre o aniversário de 1 anos de consultório novo, mas o Face com suas recordações me fez voltar no tempo, há 4 anos atrás …
Explico-me: há 4 anos atrás estive pela primeira vez em Curitiba, oportunidade para conhecer a cidade com grande potencial para vir morar. Na época achei a cidade muito bonita, limpa, organizada, mas não me senti tocada por ela. Meu filho era bebê, o hotel onde estávamos hospedados era próximo à Praça do Japão e resolvi visitá-la. Fiquei horrorizada com a dificuldade para atravessar a rua, no caso a Visconde de Guarapuava, ainda mais com um carrinho de bebê! A tal da via rápida que deixa o trânsito de veículos fluido, dificulta a vida do pedestre. Ninguém para, o fluxo de carros é constante. Uma verdadeira saga… Lembro de ter sido tomada pelo pensamento: “quero minha Sampa!!!, aqui é lindo, mas lá quando preciso atravessar a rua os carros param…”
Alguns meses após essa visita tive que me “render” ao desafio de enfrentar o trânsito de Curitiba e atravessar suas ruas para chegar aos destinos que almejava… Marido mudou-se em outubro e em dezembro de 2012 viria eu com literalmente a “casa toda”.
Protagonista da minha história ou refém da circunstância? Como diriam os mineiros “eita desafio difícil esse soh”: Deixar minha cidade natal, a qual estava absolutamente adaptada, muito bem instalada, feliz da vida, num dos melhores momentos da minha vida pessoal e profissional para mudar-me para uma cidade desconhecida, com fama de ser fria tanto no sentido térmico, quanto humano, das pessoas não olharem na sua cara quando você dá bom dia e que tinha me deixado uma péssima impressão na forma como os motoristas dirigem por aqui…
Confesso que por um tempo fui refém! Abram espaço porque meu ego quer e precisa espernear!!! Chorei, briguei, questionei, me entreguei ao estado de “sofrência”, nada mais justo afinal! Seria exigir demais num primeiro momento do meu “pobre eguinho” desamparado e que teve que abdicar de tantas coisas. E sim, um luto bem vivido faz toda diferença!
Passada a crise, veio a reflexão: “continuar sofrendo me levará a algum lugar?” Sim, com licença que vou ali no banheiro cortar os pulsos e já volto… Não, esse lugar não era opção, principalmente quando se tem filho para criar. Outra opção, viver comparando uma cidade à outra…, acho que também não…
Não teve jeito, precisei de muita, mas muita paciência mesmo para conseguir atravessar a “rua Curitiba” para conhecer seus encantos, possibilidades e potencialidades, suportar o frio e sentir o calor humano que emana daqui. Mas nada disso poderia ser vislumbrado enquanto o apego ao conhecido e seguro ocupasse todo o espaço da minha mente.
Tornar-se protagonista dá uma trabalheira danada… Mas, no começo, o que mais tinha era tempo, e quando digo tempo é literal e não simbólico. Em meu primeiro compromisso médico do outro lado da cidade me preparei para sair com o máximo de antecedência, afinal o trânsito é imprevisível, acidentes com motos são frequentes de onde venho e um trajeto de 15 minutos pode virar 50 min com facilidade. Considerando ainda que teria que “atravessar” a cidade, meu deus… Sai com exatos 1 hora e 15 minutos de casa e quando cheguei à consulta tinha 1 hora sobrando: o que fazer??? “Que trânsito é esse meu deus, que não me deixa atravessar a rua, mas que me permite chegar aos lugares mais distantes com tempo de sobra…???”
Tantas coisas para re-significar… de fato a fase de “sofrência” estava dando espaço para a fase de ressignificação.
Nesse ponto da história ter feito a formação em Coaching foi divisor de águas em minha vida. Antes de aplicar qualquer técnica aprendida em meus clientes, fui minha própria cobaia e vivenciei na pele o valor que o processo tem. O que não me fez ou faz menos psicóloga clínica, tampouco junguiana. Pelo contrário, potencializou ainda mais minha forma de olhar e lidar com tudo isso. Desde o início conseguia vislumbrar que existia uma finalidade maior em toda essa experiência, por mais difícil e sofrida que estivesse sendo, mas o dia-a-dia estava difícil de suportar. Não fazia ideia de onde me levaria, mas tinha certeza absoluta que chegaria a algum lugar, não só em Curitiba, mas em minha alma.
Pois bem, sigamos com a história e com a técnica de coaching que apliquei em mim mesma, no caso “Coaching de Adversidade”. Passada a fase de AUTO-OBSERVAÇÃO e constatação do estado de “sofrência” no qual me encontrava cheguei à fase de CONTROLE: “o que estaria ao meu alcance controlar? O que poderia fazer para deixar de ser vítima das circunstâncias…?” Comecei a explorar a cidade, dirigir e caminhar por suas ruas, conhecer novos caminhos e destinos, assim como entrar em contato com algumas pessoas que já conhecia (sem sucesso algum, diga-se de passagem. Pausa para mais uma etapa de sofrência, desta vez mais rápida, graças a deus! Afinal, não há corpo que aguente…), pesquisar por outras pessoas, que não fazia ideia de quem eram e me apresentar, com a maior cara de pau… E não é que comecei a colher os frutos de Curitiba: sim, sou capaz de ser cara de pau! Em SP nunca precisei ser. Esta competência não existia lá, foi desenvolvida aqui! Fui percebendo, reconhecendo e assumindo o que eu poderia mudar e foi assim que cheguei na próxima etapa: ASSUMIR RESPONSABILIDADE por aquilo que podia melhorar.
Foi dessa forma que fui me tornando protagonista da minha história e não mais refém da mudança. Foi assim que sai do caos que impactava todas as áreas da minha vida (ALCANCE) e parecia que não teria fim (DURAÇÃO) para, na definição de Paul Stoltz, deixar de ser DESISTENTE, permitindo que a adversidade “impacto por mudar de cidade” durasse mais tempo do que deveria, me fazendo fugir do novo e do desafiador, e passasse a ser ALPINISTA, buscando por desafios, reagindo de forma adequada e de acordo com a intensidade do problema, indo além. Fui me tornando incansável em buscar por um novo sentido e me esforcei, cresci, melhorei, aprendi e expandi muito em minhas capacidades. Fui em direção ao medo que paralisa tantos outros…
E foi assim que finalmente cheguei ao aniversário que estou comemorando hoje: 1 ano de trabalho em MEU consultório, meu espaço, primeiro idealizado e depois construindo com muita lágrima e trabalho, tanto ocupacional como emocional.
4 anos após visitar Curitiba posso dizer que cheguei onde estava em SP, contudo, cheguei muito melhor, mais madura, sovada pela vida, transformada. Talvez, se tivesse continuado em SP estaria na mesma, não teria amadurecido tanto, construído e conquistado tantas coisas como realizei aqui. Não só cheguei, como fui mais longe.
Hoje já sou capaz de ver com clareza porque o “símbolo de atravessar a rua” me tocou tanto ao chegar aqui pela primeira vez. De fato, todo esse processo foi uma “travessia” densa, profunda, intensa…
Cheguei ao outro lado e tenho certeza que muitas outras travessias me aguardam, cheias de adversidades e oportunidades. Porque sei que sofrer, espernear faz parte e não me privo desta fase não, me entrego e vivencio a dor do que for necessário, mas ficar nela não leva a lugar algum… e há tantos lugares lindos para se conhecer…
Por isso há tanto o que comemorar, foram muitos ganhos e conquistas. Gratidão a Curitiba, a todas as pessoas que cruzaram meu caminho, tanto as que me ajudaram como as que tentaram me derrubar. Sem tudo isso, não seria quem me tornei hoje.
Como símbolo da minha gratidão pensei com todo carinho numa forma de compartilhar essa labuta intensa de transformação e ressignificação… diria até ser um ritual meio antropofágico, conforme Oswald de Andrade tão bem definiu…, e que fez muito sentido para mim…
A todos que estão comigo nessa “travessia” MUITO OBRIGADA!!! Espero do fundo do coração que gostem e que sintam o valor que a travessia de Curitiba tem para mim!!!