Semana passada, buscando referências e indicações de profissionais de Mentoring cheguei a uma matéria que me propiciou algumas reflexões e que me levaram a fazer um link entre as diferentes temáticas de estudo que tenho interesse. A matéria em questão foi: “Por empresas mais femininas”, de Vick Block, a qual inclusive, compartilhei em meu Linkedin.

O artigo explora uma pesquisa que aponta a relevância e importância de se ter mulheres no comando das organizações. Longe de ser o levantamento de bandeira feminista, o artigo aborda como o panorama atual precisa resgatar dos valores do princípio feminino que foram perdidos e execrados pela cultura patriarcal.

Abro um parêntese, para explicar dentro da perspectiva junguiana que masculino e feminino, na qualidade de princípio, energia, essência, não se restringem apenas ao gênero homem/mulher. Seria como os princípios YIN/YANG da tradição chinesa. O princípio masculino é a energia da força, da direção, da determinação, objetividade, concretude, corte, assertividade e está presente tanto em homens como em mulheres; assim como o princípio feminino, que também está presente em homens e mulheres, mas que carrega outro tipo de energia: do acolhimento, cuidado, aconchego, nutrição, inclusão, suporte, subjetividade, desenvolvimento, envolvimento. Masculino/Feminino não são opostos no sentindo de um melhor que o outro; ou um mais positivo que o outro, mas sim opostos complementares. Ambos precisam existir e se relacionar. O problema é o excesso, a sobreposição. Por isso, escolhi a imagem do TAO, no sentido de simbolizar a complementaridade de ambos.

O modelo de gestão CHEFE é totalmente impregnado pelo princípio masculino.  Até recentemente, esse era o modelo valorizado: alguém que usava o seu poder de forma diretiva, mas abusiva para que as pessoas o obedecessem, mantendo a sua equipe em posição inferior. Infelizmente, essa realidade ainda ocorre em muitas empresas, mesmo mostrando-se cada vez mais menos efetiva e competitiva. Contudo, o atual panorama tem mostrado que esse modelo de gestão tão unilateral e calcado no princípio masculino, mesmo tendo tido sua importância e relevância em muitas conquistas e produções, está perdendo espaço: aquele que ordena, grita, chegando até a humilhar a equipe e a gerir num clima de medo perdeu sua vez. Hoje, o modelo de gestão exigido é outro, sendo o capital humano um fator importantíssimo a ser identificado, valorizado, desenvolvido e não mais acuado.

De acordo com Block, “Estudos têm demonstrado que as competências mais requisitadas nas organizações atualmente são as características consideradas femininas, como paixão, preocupação com valores, causa, administração de conflitos a favor do grupo, inspiração, flexibilidade, preocupação com as pessoas, brilho nos olhos, acolhimento, coesão.”

As competências descritas por Block vão ao encontro do novo paradigma empresarial simbolizado pela figura do LÍDER COACH, modelo de gestão muito mais eficiente e que ganha cada vez mais espaço, trazendo crescimento não apenas econômico, mas humano.

De acordo com Di Stéfano (2005), o líder é o responsável por criar o clima organizacional a fim de que a sua equipe produza e consiga alcançar os melhores resultados. Desta forma, precisa ser um mobilizador, alguém que motive o crescimento dos liderados, contribuindo para formar equipes autossustentáveis. Segundo o autor, o líder-coach desenvolve a liderança pela admiração, ou seja, conquista a lealdade dos liderados, sendo referência para a equipe. As pessoas tendem a não querer desapontar quem admiram, então se empenham mais, podendo agir com maior motivação. O que as pesquisas apontam é que ser humano aprende e se desenvolve quando percebe que sua dignidade está sendo respeitada. Dentre as características do líder coach, podemos destacar:

  • habilidade em compartilhar conhecimentos, gerenciar a si mesmo, desenvolver o autoconhecimento e as competências pessoais;
  • é alguém que não costuma aconselhar, ou dar respostar prontas, mas que procura trabalhar a autonomia da equipe, ajudando cada um a aprender a pensar soluções por si próprio;
  • que não quer mudar a personalidade de ninguém, mas ajudar a expandir a quantidade de respostas, aumentar as escolhas diante das circunstâncias e desenvolver possibilidades de respostas mais efetivas;
  • que faz perguntas que conduzam o liderado a reflexões efetivas e mobilizadoras.

A partir da visão de Di Stéfano, fica evidente que para a implementação do novo paradigma da empresa humanizada através da figura do líder coach, o FEMININO, não apenas na perspectiva de gênero (ter mais mulheres no comando), mas na qualidade de PRINCÍPIO precisa ser incorporado, cultivado e desenvolvido no meio corporativo.  Apenas desta forma que as empresas poderão se tornar mais humanas, adaptadas e produtivas perante o atual cenário mundial e econômico. Portanto, o conceito de líder coach traz o resgate da essência do feminino como princípio: não existe possibilidade de criar uma cultura organizacional mais humanizada, na qual o líder coach seja o modelo de referência sem que se desenvolvam características do universo feminino.

Dar mais espaço para as mulheres assumirem o comando é um passo, mas a mudança de visão e de valores, ampliando o FEMININO dentro da perspectiva aqui apresentada é crucial!

Referências consultadas:

BLOCK, V.  Por empresas mais femininas. In: https://www.linkedin.com/pulse/por-empresas-mais-femininas-vicky-bloch?trk=hp-feed-article-title-share

DI STÉFANO, R. O líder: coach. São Paulo: Qualitymark, 2005.