Não canso de assistir “Cisne Negro”. Acho um filme sensacional que aborda de maneira bela e profunda o que aparece dia-a-dia nos consultórios de psicologia e que podemos observar corriqueiramente pelas ruas.

Persona vem do latim e significa máscara. Na vida vestimos infinitas máscaras. No caso de uma mulher, vestimos a persona de filha, amiga, irmã, profissional, esposa, mãe, avó, entre tantas outras. E é assim que deve ser. Cada situação pede uma persona diferente. Como roupa, por exemplo, não dá para trabalhar num escritório de moletom e tênis, não é apropriado. O ambiente corporativo pede algo pouco mais formal. Com persona também é assim, devemos vestir a máscara condizente com a situação. Quando estamos na função mãe, somos mães, mas pode ocorrer de eventualmente uma função se sobrepor à outra. Quando isso ocorre eventualmente não há problema. O problema ocorre quando essa sobreposição vira regra e não exceção. Às vezes sem que percebamos um determinado papel domina as nossas vidas, deixando de lado tantos outros importantes. Um exemplo muito comum é de mulheres que abandonam tudo ao se tornarem mães. Deixam de lado a vida profissional, amorosa e conjugal. Vivem única e exclusivamente para ser mães. Quando isso ocorre é como se se determinada persona grudasse na pele, sem que a deixe respirar, sufocando tantas outras possibilidades de existir.

No filme em questão é o que acontece. A bailarina linda e perfeita, de tão perfeita começa a craquelar. A psique tem a função de autorregulação. Se uma polaridade ficar demais em evidência, a polaridade oposta cedo ou tarde clamará por espaço e fará a gangorra reverter. No filme é isso que ocorre. No momento de um grande passo profissional, o ego enclausurado na “persona da bailarina perfeita” não dá conta e sucumbi, trazendo à tona seu lado sombrio.

Somos perfeitos sim, mas também somos imperfeitos. Amamos, mas somos capazes de odiar. Ajudamos os outros, mas prejudicamos também. Acertamos muito, mas erramos. E no balanço final, tudo bem! Afinal, somos humanos e contraditórios por natureza! E mais, como diria Caetano… de perto, ninguém é normal…

Nossos complexos primitivos e inconscientes são a fonte de nossa fraqueza; mas com frequência são também a fonte de nossa força. O importante é tomar consciência de tais complexos, trazendo-os para o campo da consciência para que assim trabalhem a nosso favor e não contra nós mesmos, como ocorre no filme. A Sombra precisa ser integrada à consciência e não reprimida. Para quem não assistiu, recomendo! Quem já assistiu, que tal ver novamente com a ótica da persona/sombra.

Um abraço e até mais.